O Centro Beira Mondego de 1925 a 1950 – Parte I

cbm2009-1Uma visão dos primórdios do Centro Beira Mondego – Sociedade de Instrução e Recreio, Santo Varão – no seu primeiro quarto de século (1925-1950)” – Parte I

Por: Manuel CARVALHO-VARELA

Baseados na longa e entusiasmante conversa (2:30h) com dois dos nossos bons Amigos, Alberto Malhão e João Ferreira da Silva, e, ainda, na recolha de elementos dos cartazes/programas gentilmente colocados à nossa disposição, pudemos trazer até vós, algumas das muitas ilações sobre as actividades musicais e teatrais do “Centro Beira Mondego” (CBM), sigla pela qual passaremos a designá-lo, no seu primeiro quarto de século.
Como todos sabemos o “CBM – Sociedade de Instrução e Recreio, Santo Varão”, foi fundado em 1 de Janeiro de 1925, pela maioria das pessoas da nossa terra de então, pobres e menos pobres, irmanados por um ideal comum — fomentar a cultura e o recreio (os tempos lúdicos de hoje) – o mesmo é dizer, lutar pelo seu engrandecimento local e regional, acarinhar e melhorar a qualidade de vida do seu povo.
Estamos hoje aqui, pois, porque todos também sabemos, que o conhecimento da história de um povo (ou de uma colectividade, neste caso) é o mais seguro alicerce do seu desenvolvimento futuro.
Foi assim, que já esquecidos de alguns factos passados na nossa juventude, tivéssemos de nos socorrer daqueles dois Amigos, pois a maior parte das fontes de pesquisa, mais ou menos activas, infelizmente já partiram.
A certa altura da nossa conversa, Alberto Malhão com mais de oitenta anos, linguagem simples mas vigorosa e memória impressionante, relembrava: “O Rancho Infantil foi o pai e a mãe do Centro Beira Mondego”. Segundo ele, o CBM sofreu no princípio, algumas vicissitudes de percurso:
1. O primeiro ensaio do futuro Rancho Infantil de Santo Varão, efectuou-se no salão da casa de Isidro Pereira Plácido, ainda alguns anos antes de 1925;
2. Posteriormente verificaram-se diversas exibições do “Rancho Infantil de Santo Varão”, num pavilhão montado no pátio da mesma casa;
3. O seu êxito repercutiu-se para Pereira do Campo, onde se deslocou, a pedido do Padre Damas;
4. É então, que no dia 1 de Janeiro de 1925 se fundou o CBM, devido ao abnegado esforço de um grupo de homens bons de Santo Varão, ou melhor, segundo Alberto Malhão: “devido ao entusiasmo do povo da terra”;
5. A primeira sede localizou-se ainda no r/c da casa de Isidro Pereira Plácido, onde se manteve cerca de cinco anos e foi montado um pequeno teatro (já com palco, bancadas, galerias e botequim);
6. Ali se realizaram segundo se lembra, algumas récitas: ” O Rei Ló ló”, “Senhor do Cavador”, “Pupilas do Senhor Reitor” e “Celeiro do Gato Preto” (das quais não encontrámos qualquer cartaz/programa de referência).
Simultaneamente, formou-se uma excelente tuna de 24 (vinte e quatro) músicos amadores, tocando vários instrumentos de corda e de sopro, a qual no dia 1 de Janeiro de cada ano, assinalava o aniversário da fundação do CBM, com visita aos seus associados;
7. A segunda sede deveu-se à transferência, também por alguns anos, para um celeiro de Rosalina Martins Noronha, adaptado igualmente a teatro, situado na Ribas, onde se promoveram outras peças teatrais;

Obs: Interessa realçar, que na altura, um natural de Santo Varão, António Jerónimo, trabalhava nos escritórios do Caminho de Ferro da Beira Alta, na Figueira da Foz e morava em Tavarede. Como os Grupos Cénicos de Tavarede e Buarcos sobressaíam na nossa região como os melhores amadores de teatro, aquele sanvaronense trazia até nós as melhores peças ali representadas e fornecia preciosas instruções aos nossos ensaiadores. Foi então, que se repetiu “Pupilas do Senhor Reitor”, se promoveu “Rosa do Adro” e se realizou a primeira peça, cujo cartaz/programa compulsámos: “Feiticeira da Torre Velha”, ainda organizada pelo “Grupo Scénico do Rancho Infantil”, no dia 11 de Abril de 1926, na sua sede, “a pedido e pela terceira vez”;

8. A terceira sede foi edificada no local actual, em terreno oferecido por “Chiquinho de Eiras”, construída com material da época: “taipa e telha Marselha”. No entanto, como os beirais foram colocados muito junto às paredes, cedo a chuva começou a danificá-las e o CBM acabou por derrocar em grande parte, após o ciclone de 15 de Fevereiro de 1944;
9. Novamente, “(…) o povo da terra, tanto pobre como rico, com orgulho e amor” reergueu com o maior entusiasmo o CBM, com os recursos próprios e algumas ofertas de material, edificando desta vez de “pedra e cal” o edifício actual, o qual tem sofrido, ao longo dos anos, algumas alterações interiores e exteriores;

(Continua – Parte II)

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