A construção da Igreja Matriz

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Igreja Matriz de Santo Varão

Enquanto couto, assistiu esta povoação à construção da sua Igreja Matriz.
A data precisa deste acontecimento não nos é possível, para já, assinalar. O que podemos afirmar com toda a certeza é que nunca seria posterior ao século XVI.
A corroborar esta afirmação está o registo de óbito de Felipa Mateus, em 13/07/1618, “ irmam que foi de Christovão Fernandes que Deus tem e sepultada na capella de São Christovão desta Igreija de São Verão“.
O Inquérito Paroquial de 1758 refere ser seu orago “O glorioso Bispo São Verão, cujo feliz tranzito se festeja nesta Igreja no seu dia de onze de Novembro“. Não deixa de ser interessante esta alusão ao bispo São Verão, uma vez que actualmente invoca-se como patrono S. Martinho, cujo dia comemorativo é, de facto, o que é referido no citado documento.
Já Pinho Leal, na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”, em 1878, se refere a este orago. O porquê da troca do orago não se encontra devidamente esclarecido. Poder-se-á questionar se haverá qualquer relação entre a substituição da toponímia de Servela por Santo Varão com aquele bispo ou se até mesmo chegará a haver qualquer relacionação. Estranhou-se, durante muito tempo, a não existência de uma imagem representativa deste “glorioso Bispo”. Inquiriram-se os mais idosos naturais desta localidade, sem se obterem quaisquer dados conclusivos. Porém, a História prega, por vezes, partidas, umas agradáveis, outras nem por isso. E foi um desses felizes acasos que fez “descobrir” aquela que se supõe ser a imagem deste São Verão. Trata-se de uma imagem, do século XVI, em madeira policromada, que representa um santo bispo, com o seu traje característico, em muito mau estado de conservação, a qual foi submetida a uma acção de restauro, e restituída ao local de onde nunca devia ter sido retirada – a Igreja matriz. De facto, as semelhanças entre as duas imagens não é assim tão tão distante como alguns pseudo-entendidos quiseram fazer crer.

capela mor

Capela-mor

A estrutura actual do templo não difere muito da que é descrita no citado documento.
Descreve-se como sendo de uma só nave, com quatro altares, sendo o maior em que está o Santíssimo Sacramento na capela- mor “que tem sua tribuna bem feita de entalhado e dourada na qual estão collocadas as imagens do Santo Patrono São Verão, as imagens de São José, São Braz e São Tomé Appostolo e Sancta Catharina “.
Quanto aos dois altares colaterais, descritos como “em boa correspondencia e proporção, com boas tribunas bem feitas de entalhado e douradas “, afirma-se ser o do lado do Evangelho dedicado à Virgem Nossa Senhora do Rosário cuja imagem se encontraria no nicho central, sendo ladeada pelas imagens de Santo António e de Santa Luzia. Por sua vez o do lado da Epístola seria dedicado ao Senhor Jesus, podendo ver-se no nicho do meio ” huma perfeita imagem de N.S. J. Crucificado” sendo ladeado pelas imagens de Nossa Senhora da Conceição e de S. Sebastião, apresentando-se este preso ao tronco onde foi sacrificado pelos arqueiros do exército e crivado de flechas.
O quarto altar é descrito como dedicado a S. Cristóvão e integrado numa capela particular, mandada construir por Cristóvão Saro e sua mulher Maria de Aguiar, ambos naturais deste mesmo lugar, sendo à época seu administrador Calisto Rangel Pereira de Sá ” fidalgo da Casa de Sua Magestade Fidelissima “, também natural deste couto.
Esta capela, de feição renascentista, com altar de madeira, relativamente bem conservada, na actualidade, donde desapareceu a imagem de S. Cristóvão e em cujo arco está inscrita a data de 1667, data da sua possível reconstrução, deverá ter sido mandada construir provavelmente ainda em finais do século XVI. A alusão à sua construção por Cristóvão Saro e sua mulher Maria de Aguiar não nos parece correcta, por quanto à data do enlace matrimonial destes, em 1621, já aquela existia.

Capela dos Rangéis

Capela dos Rangéis

É precisamente de 13/07/1618, o registo de óbito de Felipa Mateus, irmã de Cristóvão Fernandes, possivelmente o fundador da mesma, a qual aí foi sepultada. O mesmo aconteceu com Cristóvão Fernandes Saro, filho daquele, cujo registo de óbito de 27/11/1643 refere ter sido sepultado “na sua capella de Sam Cristovam que tem nesta igreja”, bem como sua filha, Maria de Aguiar, cujo registo de óbito data de 16/01/1666.
Conhecida por capela de S.Cristóvão, dos Saros ou dos Rangéis, terá possivelmente sido construída para servir de panteão familiar.

(Fátima Batista, 2013)

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