17 de Maio – Dia da Ascensão, dia da Espiga ou Quinta-feira de Espiga

O dia da Ascensão é uma festa religiosa católica que celebra a ascensão de Jesus ao Céu, depois de ter sido crucificado e de ter ressuscitado. É tradicionalmente celebrado na quinta-feira, trigésimo nono dia após a Páscoa e é tido como “o dia mais santo do ano”.

Nesta data, celebra-se também o Dia da Espiga ou Quinta-feira da Espiga. Tradicionalmente, de manhã cedo, rapazes e raparigas iam para o campo apanhar o ramo cuja composição, número e significado varia de região para região. O ramo pode incluir espigas de trigo, folhagem de oliveira, malmequeres e papoilas. O ramo pode também incluir centeio, cevada, aveia, etc.

O simbolismo de cada um dos elementos do ramo é, basicamente, o mesmo: – A espiga = que haja pão (isto é, que nunca falte comida, que haja abundância em cada lar) – O ramo de folhas de oliveira = que haja paz (a pomba da paz traz no bico um ramo de oliveira) e que nunca falte a luz (divina). – Flores (malmequeres, papoilas, etc.) = que haja alegria (simbolizada pela cor das flores – o malmequer ainda «traz» ouro e prata, a papoila «traz» amor e vida e o alecrim «traz» saúde e força).

Além destas associações ao pão e ao azeite, a espiga surge também conotada com o leite, com as proibições do trabalho e ainda com o poder da Hora, isto é, com o período de tempo que decorre entre o meio-dia e a uma hora da tarde, tomando mesmo, nalguns sítios do país a designação de Dia da Hora.

Nas localidades em que assim é entendida esta quinta-feira, acredita-se que neste período do dia se manifestam os mais sagrados e encantatórios poderes da data e nas igrejas realiza-se um serviço religioso de Adoração, após o qual toca o sino. Diz a voz popular que nessa hora “as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e até as folhas se cruzam”. Nalgumas povoações era também do meio-dia à uma que se colhia a espiga.

Noutras regiões ainda, esta data é dedicada ao cerimonial do leite (Esperança, no concelho de Arronches, Guimarães, muitas freguesias do concelho de Pinhel, em Santa Eulália, no concelho de Elvas,…)

Nalgumas zonas, como em Santo Varão, esta data era associada à abstenção laboral, interrompendo-se muitas actividades como a cozedura do pão ou a realização de negócios. Não se cozia nem se remendava e havia quem deixasse comida feita de véspera para não ter de cozinhar neste dia. Aqui na aldeia era também costume guardar-se pão, para que durante todo o ano não falte este alimento em casa. Este pão consumia-se no ano seguinte «sem bolor», prova da santidade do dia.

O ramo é guardado ao longo de um ano, até ao Dia de Espiga do ano seguinte, como um poderoso e multifacetado amuleto, que é pendurado, por norma, na parede da cozinha ou da sala, ou atrás de uma porta, para trazer a abundância, a alegria, a saúde e a sorte. Em muitas terras, quando faz trovoada, por exemplo, queima-se à lareira um dos pés do ramo da espiga para afastar a tormenta.

A origem deste dia é, contudo, muito anterior à era cristã. É um herdeiro directo de rituais pagãos, realizados durante séculos, por todo o mundo mediterrâneo, em que grandiosos festivais, de intensos cantares e danças, celebravam a Primavera e consagravam a natureza, festas da deusa Flora, e às quais se mantém ainda ligada à tradição dos Maios e das Maias. Exortava-se o eclodir da vida vegetal e animal, após a letargia dos meses frios, e a esperança nas novas colheitas.

A Igreja de Roma, à semelhança do que fez com outras festas ancestrais pagãs, cristianiza depois a data e esta atravessa os tempos com uma dupla acepção: como Quinta-feira de Ascensão, para os cristãos, assinalando, como o nome indica, a ascensão de Jesus ao Céu, ao fim de 40 dias; e como Dia da Espiga, ou Quinta-feira da Espiga, esta traduzindo aspectos e crenças não religiosos, mas exclusivos da esfera agrícola e familiar.

Fonte principal de pesquisa – OLIVEIRA, Ernesto Veiga – Festividades Cíclicas em Portugal. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1984. 357 p.(Colecção Portugal de Perto n.º 6).

Artigo gentilmente cedido pelo Rfcbm Santo Varão (publicado na sua página do Facebook).

 

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