A cultura do arroz no Baixo Mondego (parte II)

Estando ainda a decorrer  o acontecimento “Coimbra Região Europeia da Gastronomia 2021”, apresentamos um pequeno contributo da Liga de Amigos de Santo Varão para o conhecimento da orizicultura na nossa região.

Parte II

No caso concreto da freguesia de Santo Varão, ( à época com 320 fogos) o pároco da altura noticia que mais de 200 pessoas suas freguesas tinham dado entrada no hospital nos últimos dois anos com febres intermitentes e que naquela data lá estariam mais de 100, se aquele estabelecimento não tivesse restringido a admissão dos doentes. Mais acrescenta que na sua freguesia não se cultiva o arroz, mas que ao norte e sul dela se cultiva em grande escala e que todos afirmam provirem deste facto tantas doenças como as que se registam. De facto, nas consultas feitas, apenas encontrámos alusão a um único proprietário, de seu nome Joaquim Gomes.

A nota estatística enviada ao bispo pelo referido pároco, em 1883, aqui transcrita, é elucidativa do que se passava então. Parece que o governo terá sido sensível a estes argumentos pois que os decretos de 23/03/1882 e de 5/04/1882 acabam por proibir esta cultura no distrito de Coimbra.

Não tardaram, contudo, a surgir reclamações por parte dos orizicultores da zona, a quem interessava este cultivo, como é obvio, pelos elevados rendimentos que dele extraíam.  No concelho de Montemor, num total de 519 proprietários, no entanto, só reclamaram contra este decreto 76, no ano de 1882.

A pressão feita sobre o governo da altura, leva este a verificar até que ponto tinham fundamento as ponderações feitas sobre o assunto, pelo que foi criada uma comissão encarregada de redigir um relatório, após feitas averiguações às condições em que se fazia esta cultura.

As conclusões a que chegou a comissão nomeada pelo Ministério das Obras Públicas, por portaria de 16 de Setembro de 1882, traçam uma radiografia clara do problema.

Assim, contra a alegação feita por alguns proprietários de que em terrenos alagadiços outras culturas seriam impraticáveis, contrapõem os relatores que o problema do alagamento se devia muito especialmente à não limpeza das valas, que muitos proprietários não faziam de propósito para que a sementeira do arroz se pudesse continuar a fazer (.Continua)

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