Passeando pela história de Santo Varão – IV

À medida, pois, que os intrusos sarracenos iam sendo empurrados para sul, necessário se tornava povoar e promover o desenvolvimento económico das áreas devastadas. Assim sendo, são os próprios senhorios eclesiásticos que dominam esta área que, através de aforamentos coletivos ou individuais, chamam a si o encargo de atrair povoadores. Dão início a um processo de transferência do domínio útil dos prédios para um grupo ou indivíduo, ficando estes obrigados ao pagamento anual de certa pensão, geralmente uma parte dos frutos do respetivo prédio. Era o foro, também designado por ração ou porção.
É assim que no termo de Montemor surgem ou progridem certos núcleos populacionais, muitos deles em ligação estreita entre as terras do monte e campo.
Ainda na posse do Cabido, em 1300, fez este um contrato de aforamento “de metade do couto e possessão de Servela“.
Já na posse da Mitra foi este couto alvo de novos contratos de aforamento, prática corrente na época.
Data de 1576 o contrato de aforamento de “Huns matos no couto de São Veram onde chamão as Chainças “, local que curiosamente ainda hoje conserva esta designação.
O foro então a pagar seria de três alqueires de trigo e outros três de milho, uma “boa rede” de palha de trigo, a ração de todos os frutos “de seis hum “, do vinho de “oitavo“ e o terrádego “segundo o costume“. O foreiro em causa seria um tal Diogo Gonçalves.
A alusão ao pagamento do foro em trigo e milho permite-nos inferir serem estes cereais, sem dúvida, predominantes nesta zona e, por conseguinte a base da alimentação local. A frequência e quantidade com que é nomeado, em toda a região do Baixo Mondego, nas rações e foros, permite concluir ter o trigo lugar de honra na produção.
Aparece secundado, de perto, pela cultura do milho a que se junta a do linho, produto agrícola de grande relevância para os agricultores e cujo cultivo ainda marca presença em meados do século XIX. A ela se refere, em 1868, o jornal “O Conimbricense” ao referir ter esta cultura “um notável desenvolvimento […] sendo de muita utilidade para os lavradores”. Mais acrescenta que “nas freguesias de Pereira e Santo Varão do concelho de Montemor-o-Velho é maior o cultivo deste género…”.
Também os olivais formavam largas manchas nesta nossa zona. Nos finais do século XIV Coimbra indicava o azeite como sua principal produção agrícola. O rei D. João I é o próprio a permitir aos seus lavradores o poderem vendê-lo, fazendo o seu transporte pelo Mondego. A mesma regalia será concedida, anos mais tarde, em 1456, a Montemor- o- Velho e seu termo. Ainda em finais do século XIX a sua importância seria considerável já que se chegava a publicitar na imprensa regional o arrendamento de olivais “no monte de Santo Varão e quinta de S. Bento”.
A atestar a importância da cultura cerealífera nesta área refira-se a alusão que é feita, num documento da Mitra Episcopal de Coimbra, ao facto de 4 geiras de terra, “em S.Verão“, em 1556, levarem 40 alqueires de pão, de semeadura, o que significaria em média 10 alqueires por geira, que nos campos de Coimbra equivalia a 18 aguilhadas de lado.
O Inquérito Paroquial de 1758 volta a mencionar estas culturas, a par do linho e leguminosas, pelo que a dieta alimentar não deveria ter sofrido grandes alterações. (Baptista, 2012)

Deixe um comentário