Rota das Capelas – Senhora do Amparo

Documentos coevos assinalam ser a capela de Nossa Senhora do Amparo, situada no então Casal das Machadas, desta freguesia, de época bastante recuada. A data da sua construção não é precisa, mas com toda a certeza é anterior a 1619. Nesse mesmo ano foi sepultadaMaria, filha de António Fernandes dentro da hermida de N.S.ª do Amparo, junto com sua may “, o que leva a corroborar essa mesma afirmação. O registo de óbito do citado António Fernandes, de 26/09/1623, di-Io morador no Casal da Machada e sepultadodentro da hermida de Nossa Sª do mesmo cazal que elle mandou fazer“, pelo que não restam dúvidas ter sido ele o seu fundador.

.A única coisa de que se tem a certeza é estarmos, uma vez mais, perante um panteão familiar, já que toda a família aí foi sepultada e apenas a família.

Mais tarde, a necessitar já de reparações, serão os herdeiros deste que a isso são obrigados visto “q. herão senhores das d.propriedades” onde aquela fora construída.

Desta ermida somente se volta a ter notícias em 1730, através de um requerimento feito ao bispo por Manoel Luís da Costa e outros moradores no dito casal, a fim de que fosse concedida licença para aí se dizer missa. Se continuava a ser pertença ou não dos sucessores de António Femandes, ignora-se.

Anos mais tarde, face ao estado de ruína em que se encontrava, seria Francisco Coelho da Cunha, residente na quinta do Matoutinho, a mandá-la reformar de ” ornamentos e altar por estar vertendo agoa e cheia de raizes q. se achavão desfazendo… ”.À época, certamente seria este o seu proprietário, ainda que não se conheçam as circunstâncias em que tal aconteceu. Conforme se pode ler no termo da visita feita à capela pelo vigário Tomás Nunes Ferreira, não só o altar teria sido reconstruído, como também teria sido aumentada a área, tanto no comprimento como na largura e dotada de mais alguns ornamentos. O aumento da área, sem dúvida, tem justificação no facto de estar já ao serviço dos moradores do referido casal e como refere o vigário citado “rezultaria grande prejuizo pella distansia em que estão” se os moradores aí não pudessem assistir à missa.

Assim remodelada, viria uma vez mais a entrar em ruína passados alguns anos.
Em 8 de Junho de 1754 dá entrada no Cartório da Câmara Eclesiástica uma nova petição, apresentada pelo Desembargador Manuel Ferreira de Oliveira, provedor da Camara de Leyria com casa e fazendas no couto de S. Verão“, para mandar fazê-la ” a fundamentis” pelo ” risco que lhe parecer mais decente. ”
A razão invocada é, não só a grande devoção que tinha à dita Senhora, como também o facto de ela estar situada em duas propriedades e olivais que lhe pertenciam à data e que estavam obrigados aos reparos daquela.
No seguimento deste pedido é redigida uma escritura onde consta a doação à capela e hipoteca de uma propriedade de terra lavrada, ficando com o direito de padroado para ele e seus sucessores.
Reconstruída ou construída de novo, feita a vistoria, é, de novo, concedida licença para aí se dizer missa. E, tal como no passado, passou a servir esta ermida de panteão familiar, tal como se pode comprovar pelo jazigo em campa rasa, onde se pode ler o seguinte epitáfio aqui jazem o Dezembargador Manoel Ferreira d’Oliveira, instituidor d’esta Capella. Falleceo em 1784. E seu neto o Desembargador Faustino Ferreira de Noronha Oliveira e Saro, nasceu em 1778 e falleceo aos 4 de Setembro de 1843. Mandou fazer esta lapide sua esposa Emilia Candida Alves Ribeirode Noronha em testemunho da sua constante saudade.

Ainda que na referida lápide constem apenas estes dois nomes, o que é certo é que os registos de óbito dão conta de aí também ter sido sepultada em 1833  Francisca de Noronha, filha do referido desembargador. Aí também se celebrou o matrimónio de uma filha desta, Maria Benedita Noronha, em 1810.

Atualmente é pertença da Igreja Matriz por doação de Rosalina de Noronha, membro da família destes últimos proprietários.

Com uma área que ronda os 12 metros quadrados, apresenta uma fachada principal voltada a poente, com uma porta central e duas janelas laterais, bem como uma torre sineira. A anteceder a entrada encontra-se um adro, rodeado de muros, certamente o antigo “rossio” referido no registo de óbitos, que serviu de cemitério por ocasião de uma epidemia verificada em 1833. A capela mor é precedida de arco cruzeiro em aduelas de cantaria, formando um arco pleno. O teto de arestas é forrado a madeira, com caixotões sem decoração. O altar mor é composto de uma banqueta de madeira. Já o retábulo, bastante descaraterizado na atualidade, apresenta uma estrutura em talha do barroco nacional, com colunas coríntias, e em cujo nicho central se encontrava até há relativamente pouco tempo a imagem de Nossa Senhora do Amparo, de valor muito inferior à original, que era em pedra e de dimensões mais reduzidas.

Tal com antigamente a devoção a esta Senhora continua nos nossos dias e em moldes que não diferem muito das suas raízes. .A origem destas festividades perde-se no tempo. Se são ou não contemporâneas da edificação da capela não se pode apurar. Já aparecem contudo publicitadas em 1870, num periódico regional, onde se diz haver, 2ª feira de manhã, “ missa cantada e sermão; e de tarde procissão com a imagem da Senhora, dirigindo-se a ermida, a pouca distancia do povo”.

Altar-morNossa Senhora do Amparo

O ” Rossio” que serviu de cemitério

CBM – II Festival Gastronómico

Decorreu no passado fim de semana o II Festival Gastronómico do CBM, em Santo Varão.

Com a fama que tem vindo a granjear, o resultado deste evento não podia deixar de ser senão mais um êxito. A adesão foi grande, não só sob a forma presencial como também de takeaway, tendo acorrido apreciadores de várias partes do concelho e da região. Com uma ementa variada, que ia desde o arroz de lampreia, de cabidela, de feijão, até às apreciadas enguias, não esquecendo o já famoso arroz doce, tudo serviu para atrair convivas que, certamente não deram por mal empregue a deslocação até esta quase centenária colectividade.
A todos o CBM agradece, fazendo votos para que para o ano o III festival volte a ter sucesso e a atrair cada vez mais gente.
Santo Varão é uma aldeia hospitaleira que sabe receber bem quem nos visita. Apareçam.

Romaria à Senhora do Amparo

Perde-se no tempo a festividade em honra da Senhora do Amparo que, não sendo a padroeira da freguesia, é tida como tal. A época escolhida foi desde sempre a quadra pascal, duranta a qual em tempos idos se realizavam romarias que, partindo da povoação, se dirigiam ao Casal das Machadas, onde se situava e se situa a sua capelinha, erigida em finais de quinhentos ou inícios de seiscentos, como se pode constatar nos registos paroquiais. Reza a lenda que teria sido erigida em cumprimento de uma promessa feita em alto mar.
Foi, pois, no intuito de preservar esta tradição, enquanto memória colectiva do seu povo, que a Liga de Amigos de Santo Varão recriou há alguns anos uma dessas romarias com a participação do Rancho Folclórico do CBM:

 

A cultura do arroz no Baixo Mondego (parte II)

Estando ainda a decorrer  o acontecimento “Coimbra Região Europeia da Gastronomia 2021”, apresentamos um pequeno contributo da Liga de Amigos de Santo Varão para o conhecimento da orizicultura na nossa região.

Parte II

No caso concreto da freguesia de Santo Varão, ( à época com 320 fogos) o pároco da altura noticia que mais de 200 pessoas suas freguesas tinham dado entrada no hospital nos últimos dois anos com febres intermitentes e que naquela data lá estariam mais de 100, se aquele estabelecimento não tivesse restringido a admissão dos doentes. Mais acrescenta que na sua freguesia não se cultiva o arroz, mas que ao norte e sul dela se cultiva em grande escala e que todos afirmam provirem deste facto tantas doenças como as que se registam. De facto, nas consultas feitas, apenas encontrámos alusão a um único proprietário, de seu nome Joaquim Gomes.

A nota estatística enviada ao bispo pelo referido pároco, em 1883, aqui transcrita, é elucidativa do que se passava então. Parece que o governo terá sido sensível a estes argumentos pois que os decretos de 23/03/1882 e de 5/04/1882 acabam por proibir esta cultura no distrito de Coimbra.

Não tardaram, contudo, a surgir reclamações por parte dos orizicultores da zona, a quem interessava este cultivo, como é obvio, pelos elevados rendimentos que dele extraíam.  No concelho de Montemor, num total de 519 proprietários, no entanto, só reclamaram contra este decreto 76, no ano de 1882.

A pressão feita sobre o governo da altura, leva este a verificar até que ponto tinham fundamento as ponderações feitas sobre o assunto, pelo que foi criada uma comissão encarregada de redigir um relatório, após feitas averiguações às condições em que se fazia esta cultura.

As conclusões a que chegou a comissão nomeada pelo Ministério das Obras Públicas, por portaria de 16 de Setembro de 1882, traçam uma radiografia clara do problema.

Assim, contra a alegação feita por alguns proprietários de que em terrenos alagadiços outras culturas seriam impraticáveis, contrapõem os relatores que o problema do alagamento se devia muito especialmente à não limpeza das valas, que muitos proprietários não faziam de propósito para que a sementeira do arroz se pudesse continuar a fazer (.Continua)

A cultura do arroz no Baixo Mondego

Estando ainda a decorrer  o acontecimento “Coimbra Região Europeia da Gastronomia 2021”, apresentamos um pequeno contributo da Liga de Amigos de Santo Varão para o conhecimento da orizicultura na nossa região.

Parte I

A introdução da cultura do arroz na Península Ibérica, segundo alguns autores,terá sido feita pelos Árabes.

É no século XVII que encontramos as primeiras referências a esta cultura, nos campos do Baixo Mondego, a cargo dos crúzios de Coimbra.

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Concurso de Presépios

Ainda que o espírito natalício, tão apregoado nesta quadra devesse permanecer todos os dias do ano, é neste período que os valores a ele inerentes veem à tona de água com mais parcimónia.

Aproveitando, pois, esta quadra e os referidos valores, a Liga de Amigos de Santo Varão lançou a ideia à comunidade de um concurso de presépios, via on-line.

Alguns foram os que apoiando a ideia, acederam a este convite. Outros, por desconhecimento ou desinteresse, assim não procederam.

De qualquer modo, a Liga de Amigos de Santo Varão, agradece a participação e até os incentivos recebidos, deixando aqui registados quer os presépios mais votados, quer todos aqueles que concorreram e que merecem também um lugar de destaque no nosso portal.

Um bom ano são os votos desta equipa,

1º lugar:

2º lugar:

3º lugar:

Todos os pressépios:

 

 

 

Feira S. Martinho

Foi com algumas restrições que se realizou nos dias 13 e 14 de Novembro, a tradicional feira anual de S. Martinho.

Desta vez, o cenário escolhido foi o pátio do CBM para a venda de produtos, com todas as regras sanitárias em vigor. Apesar da afluência ter sido menor que em anos anteriores, mesmo assim a direção da Liga de Amigos congratula-se com a adesão de grande parte da população.

O mesmo aconteceu com o almoço/convívio, onde as regras foram cumpridas com o devido distanciamento de mesas e pessoas.

Uma vez mais contámos com a presença do senhor presidente da  JUNTA DE FREGUESIA DE SANTO VARÃO, verificando-se a ausência de qualquer representação camarária.

Um agradecimento a todas as pessoas que se mostraram disponíveis para ajudar nas tarefas necessárias e especialmente ao grupo ADN de Palco que abrilhantou o almoço.

Cumpriu-se a tradição!

Feira de S. Martinho

Após o “ciclone” que varreu todo o mundo e nos fez entrar em letargia durante quase dois anos, acalmada a “tempestade”, é tempo de retomarmos as nossas atividades, ainda que com moderação e alguns cuidados,

Como tal, resolveu a Liga de Amigos , regressar ao convívio de todos os Santovaronenses e amigos com a feira de S. Martinho, nos dias 13 e 14 de Novembro..

Nela poderão continuar a encontrar os produtos agrícolas da região, bem como os doces, licores, jeropiga e aguardente desta região mondeguina, a par de outros produtos de charcutaria e frutos secos da época..

Prevendo que o S.Pedro não esteja do nosso lado, a feira centrar-se-à no pátio do CBM e o almoço/convívio no seu salão, estando a animação a cargo do grupo de teatro ADN do Palco.

Apelamos a todos quantos possam colaborar que o não deixem de fazer, pois só assim conseguiremos manter viva esta tradição que faz parte da nossa identidade.

 

No tempo das “pasteleiras”

Preservar e reviver usos, costumes e tradições locais são um dos objetivos que presidiram à criação da Liga de Amigos de Santo Varão. Assim, ao longo de cerca de 20 anos de longevidade muitas têm sido as atividades realizadas com esta finalidade.

Uma delas foi a recriação do uso de um transporte muito usado pela população nas suas deslocações aos arredores ou até mesmo à sede de concelho – Montemor-o-Velho, as denominadas “pasteleiras”, símbolo de uma época e que as gerações recentes na sua maioria desconhecem.

 O seu nome  deriva da expressão “andar a pastelar”, ou seja, andar devagar, andar a fazer tempo. São bicicletas pesadas, robustas, confortáveis e que utilizam uma transmissão de três velocidades.

A História de um país, de uma região, de uma qualquer localidade de maior ou menor dimensão, faz-se de marcas identitárias, materiais ou imateriais, que foram sendo criadas por personagens que aí nasceram, viveram e marcaram a sua presença. Daí que sem essa identidade modeladora não pode haver História.

São, pois, algumas dessas marcas registadoras das tradições de Santo Varão que aqui recordamos.

Persistência de Memórias

Desde a sua fundação, muitas têm sido as atividades desenvolvidas pela Liga de Amigos de Santo Varão com vista à defesa e preservação da identidade desta aldeia e das suas gentes.
Ainda que a persistência da pandemia nos obrigasse a uma paragem, ficam, contudo, as memórias de outros anos e de rostos, uns que já partiram do nosso convívio e outros a quem a vida ainda os presenteia.
Porém, em qualquer dos casos, a memória persiste através desta recolha de fotografias: